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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ai Lurdes....Lurdes que vou morrer.

Se não usam supositorios como guloseimas, então...pachos na testa.

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele

Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,

Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,

Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças

Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,

Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.

Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

António Lobo Antunes
- (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)

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3 Comentários:

Blogger MAC disse...

Da poesia mas satírica que tenho lido, neste caso do Lobo Antunes, por acaso já conhecia e foi bom reler.
Mas agora pergunto, só gripe??? Eheheheh…que me perdoam os corajosos que conseguem silenciar as suas maleitas. :-)

Mariazinha da Silveira

10:52 da manhã  
Blogger RI-RI disse...

Ai, esta tosse...

12:49 da tarde  
Blogger Titá disse...

Também já conhecia, mas é um belo retrato de uma faceta bem característica dos homens.

4:42 da tarde  

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