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sábado, 28 de agosto de 2010

A SABEDORIA POPULAR ...

Casa de Juncal com balcão. Desenho a carvão de Joaquim Pires de Matos ...
Em todos os recantos de Portugal, existem pessoas com grande amor à sua terra natal. Naturalmente, que por este Beira Baixa, também as há. Algumas não se limitam apenas a proclamar as suas raízes , pugnando pela preservação da história das aldeias que foram o seu berço. Tenho um amigo, Joaquim Pires de Matos de seu nome, que muito tem feito pela sua aldeia – Juncal do Campo. Para além da pintura e dos quadros que vai expondo, o Joaquim tem feito várias pesquisas, contidas no seu livro “Juncal do Campo – um pouco da sua história”. Foi editado já no ano longínquo de 1983 e continua a ser uma referência a muito dos usos e costumes desta pequena aldeia beirã. E é na página cento e dois, que nos dá conta de algumas práticas de interesse para as pessoas que povoam o mundo rural. Assim, e com a devida vénia transcrevo: “ … os lobos costumam aproximar-se dos bardos durante a noite, pelo lado oposto de onde sopra o vento, para que os cães não detectem os seus ruídos e o mau cheiro que exalam. Assim, à noite, os pastores costumam deitar uma mão cheia de terra ao ar, para verem de onde está o vento, colocando de seguida, as choças dos cães de guarda, próximo do bardo, mas do lado oposto ao vento…” . “… quando alguém quer saber se existe água no subsolo, leva ao local determinadas pessoas, conhecidas por “vaidores”. Estes, com uma vara verde, pegando nas extremidades da mesma, na posição horizontal, curvam-na para cima. Se a curva da vara se alterar para a posição oposta, é indicativo de que existe água …”. “ …quando as ovelhas pastam nos terrenos de areia (campo) dão mais leite do que se pastarem em terrenos argilosos (charneca)…”. “…para tirar certos cheiros desagradáveis do interior de uma casa e de outros locais, costumam colocar dentro de uma lata algumas brasas que polvilham com açúcar, de onde se liberta depois, um aroma agradável e desinfectante …”. “… quando as pessoas transportam caldeiros ou baldes à cabeça, contendo qualquer liquido, costumam colocar uma ou mais folhas de couve sobre o liquido, para que este não salte fora das vasilhas …”. E mais pormenores haveria para contar. Será, direi, para aqueles a quem a vida campesina nada diz, fastidioso. Porém, a cultura popular, deve ser preservada. O livro de Joaquim Matos é interessante neste aspecto, revelando, noutros, até uma certa inocência, em relatos de episódios de antanho. Mas não deixa de ser um documento, que, tal como outros, está religiosamente guardado na biblioteca da Junta de Freguesia de Juncal do Campo. Assim, as gerações vindouras, poderão melhor compreender os usos e costumes dos seus antepassados. Mas, na sociedade mediática em que vivemos, não tenho, contudo, a certeza disso. Ficam os livros, por mais modestos que sejam, como bastiões de uma transmissão oral que se extingue.
Quito Pereira

6 Comentários:

Blogger Isabel Melga disse...

ORA VIVA! TRECHO BONITO E SOBRETUDO MATEI SAUDADES DE VOSSAS SENHORIAS DE QUEM NÃO TENHO NOTÍCIAS!ENTÃO AS FÉRIAS JÁ FORAM? TUDO A ROLAR? A PROPÓSITO DESTE ARTIGO AINDA HOJE DE PASSAGEM PELA PRAÇA ONDE DECORRIA A FEIRA DAS VELHARIAS EM COIMBRA TENTEI-ME A COMPRAR UM LIVRO COM ILUSTRAÇÕES SOBRE MEMÓRIAS MUITO INTERESSANTES. O SENHOR VENDEU-O POR METADE DO PREÇO. MAS TINHA GENTE APESAR DO CALOR E DE ESTAR MUITA GENTE AINDA DE FÉRIAS. O PIOR É QUE AS COISAS SÃO MUITO CARAS E AS PESSOAS CONTENTAM-SE EM VEREM!!!

7:02 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

Estou como a Melguita, muito satisfeita por retornares a nossos braços.
Como sempre te disso e vaglorio-me de pouco me desviar da verdade, aprecio imenso conhecer todo um passado que nos antecedeu.
Desde a antigas civilizações passando por uma pobre idade média, e os anos subsquentes, leio com imnsa spfreguidão.
São-me especialmente caros os usos e costumes com os quais me delicio.
Nas minhas viagens procuro paisagens, monumentos...mas sobretudo ao contacto directo com o povo, o qual sempre interpelo sempre que me é possivel.

7:41 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

Desculpem lá as omissões das letras...mas o tempo é curto.
Obrigada por mais este interessante texto de usos e costumes.
Li-o com muito interesse

7:44 da tarde  
Blogger quito disse...

Nela
Quando dizes que retornei parece que parti. Continuo a dar a minha colaboração a este espaço de convívio, como muitos outros amigos que colaboram igualmente no blogue do meu amigo Fernando Rafael. Fiquei satisfeito por terem gostado do texto, uma vez que se tratava de uma realidade rural, não muito interessante para muita gente ..

10:14 da tarde  
Blogger RI-RI disse...

Sempre a aprender...
Continua, Quito!

10:41 da tarde  
Blogger Chico Torreira disse...

Um texto muito prático e funcional para quem lê. Jamais fazia ideia que os lobos preparam a caça como os caçadores em pleno mato. As folhas de couves sobre os líquidos é muito original. Sem dúvida, tens uma biblioteca extraordinária. Dá gosto ler.

6:29 da tarde  

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