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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Os Venenos e os Doces

Veneno de Serpente e Doce de Abóbora
Há muito, muito tempo, quando os animais ainda falavam, vivia na selva uma serpente muito bonitinha, sempre muito arranjadinha, escamas em gel e tal, rastejava com tamanha graciosidade que todos os animais lhe davam atenção. A serpente que se chamava Dorazinha, era muito bem falante, dominava várias línguas, abarcava uma vasta cultura e falava sobre tudo, desde politica à gastronomia, passando pelo futebol e pela moda. Quase uma líder, portanto. E digo quase, porque, astuta como todas as serpentes, dava um certo ar de modéstia (falsa modéstia), simulando às vezes uma certa pobreza de intelecto, o que confundia os seus vizinhos da floresta. Dorazinha, tinha um apurado sentido de audição, ouvindo aqui e ali, sempre escondida por entre as folhas dissimulando a sua presença, escutava e gravava na sua mente as conversas perscrutadas. Só por si, este acto de ouvir escondendo dos outros a sua presença, é por demais censurável e moralmente condenável, mas, a Dorazinha não se ficava por aqui, pois utilizando o que antes ouvira, espalhava por entre os outros habitantes uma versão conveniente a provocar mal-estar, mexericos, conflitos entre amigos e conhecidos, zangas entre compadres e comadres (sim, porque no reino animal deste tempo, também havia compadres e comadres), na verdade, espalhava veneno em alvos bem específicos. Era, portanto, uma serpente venenosa. Mas nem por isso dava muito nas vistas, passeando a sua beleza, de sorriso feito para todos, lá seguia no seu mundo de fingimento sem levantar suspeitas.
Na selva há sempre um chefe, melhor dizendo: uma Rainha. Sim! Uma Rainha! Porque sou eu que estou a contar esta fábula e não gosto do Sporting, prefiro o Benfica (apesar de ser da Académica) e portanto, nesta floresta quem manda é uma Águia (em vez do tradicional leão). A águia de nome: Célia, impõe grande respeito e é admirada pelos demais animais. Nos seus altos voos, a sua visão apurada permite aferir do que se passa no seu reino, e claro está, hà muito que topa a serpente Dorazinha e os seus esquemas a alimentar a ambição que lhe vai no âmago. Não será de admirar, a conversa que a Dorazinha teve com o lobo Jaquim, adversário número um de Célia;
- Lobo Jaquim, já viste como a Rainha está cada vez mais altiva? Até parece que lhe pertencemos, que não temos vontade própria. E tu tem cuidado – disse Dorazinha – olha que ela traz-te debaixo de olho, eu até ouvi dizer que ela pretende enviar-te para os confins da floresta, onde tudo é deserto (como no Alentejo…) e pouco há que fazer.
Jaquim, nada disse, mas ficou-lhe aquela a remoer-lhe a alma e a paciência. Embora adversário feroz de Dorazinha, sempre fora sincero e leal para com ela. Tinha que a enfrentar.
Assim, ao fim do dia, o Lobo Jaquim foi ao poiso da Rainha, pedindo uma audiência com urgência ao que Dorazinha anuiu.
Disse-lhe Jaquim, com voz firme: - Excelência, apesar de não concordar contigo no modo como governas o nosso reino, sempre te fui fiel e franco, mas, dizei-me: por quereis que abandone este lugar e vá viver para os confins da floresta?
- Que falais?! Embora tenhamos divergências, como já assumiste, sempre te respeitei profundamente, pois sempre foste sincero nos teus dizeres, conto contigo neste feito difícil Jaquim que é governar o nosso reino, nunca me passou pela cabeça enviar-te para qualquer outro lugar. Mas, contai, quem te disse tal blasfémia?
- Hum!... Perdoai Rainha Célia. Fui induzido em erro pelo veneno expelido pela serpente Dorazinha.
- Bem me queria parecer – disse a Rainha – há muito que a vigio, de hoje não passará o castigo que tenho para ela.
A Rainha Célia, foi ter com o mago da floresta e pediu que este produzisse uma droga, capaz de transformar o veneno de Dorazinha em doce de abóbora.
E assim foi feito, de ora em diante a serpente Dorazinha teria que se apresentar 2 vezes por semana na botica do reino, para tomar a droga e cuspir todo o veneno que possuía no corpo, já sobre a forma de doce de abóbora. Este doce seria distribuído por todos os animais da floresta. Uma outra forma de provar do “veneno” da serpente.

Hoje, os animais já não falam, mas anda tanto veneno no ar…

Manuel Neves in PopulusRomanus


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3 Comentários:

Blogger RI-RI disse...

Compreendi-te...
Fez-me lembrar... O cabeça de abóbora Thomaz.

4:58 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Também eu te compreendi, meu amigo!!!

7:43 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

Esta fábula já a conhecia mas com outros intervenientes...
Gostei especialmente da introdução futebolística que serviu de antídoto e ajuda, no suporte a tão preversos procedimentos.

10:10 da tarde  

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