BRACARA AUGUSTA

Funicular do Bom Jesus do Monte

Ontem, tive a oportunidade de ler um pequeno artigo da Manuela Curado, sobre a cidade de Braga. Quis comentar o texto, mas deparo-me agora com uma dificuldade inultrapassável: o meu portátil, depois das seis e meia da tarde, veda-me a possibilidade de comentar seja o que for. E foi assim, que me veio ao pensamento esse monstro da representação que se chamava António Silva. A propósito de um rádio que não funcionava, o actor, no filme “ O Leão da Estrela”, dava o seu esclarecido parecer técnico: “ o rádio não funciona, porque a onda bate na lâmpada e recua…deve ser problema de carburador”. E é também o que eu digo do meu computador: deve ter os filtros sujos, ou é falta de valvulina na caixa de velocidades. Bem, agora que já Vos expliquei o contencioso que vou tendo com o meu insubstituível companheiro de muitas horas, não posso deixar de falar da cidade de Braga. E a razão é sentimental. Passei, em Braga, muito bons momentos da minha infância e juventude. Tinha lá família residente e, durante as férias, muitas vezes fui para Braga. Era ali, ao cimo da avenida que se chamava, naquela época, Marechal Gomes da Costa, que a minha família vivia. Ainda há pouco tempo, junto ao café “Cinelândia”, eu olhava para a janela da casa dos meus tios. Senti um aperto no peito e fui atingido em cheio por esse sentimento bem português que se chama saudade. Braga, é hoje, uma grande e bonita cidade. Urbe viva, com muita juventude, que frequenta os pólos universitários. A população é acolhedora, com aquele seu sotaque nortenho, por vezes – muitas vezes – com uma linguagem colorida, mas não maldosa. Que agradável sensação é tomar um café debaixo das arcadas ao cimo da ex-marechal Gomes da Costa, ouvindo o repicar dos sinos a chamar os fiéis para a missa. É um som inigualável. E subir no funicular para o Bom Jesus do Monte! Ronceiro e gemendo, o elevador lá nos leva pela encosta verdejante acima, trabalhando à força de água. Depois é só apreciar o monumento barroco e ver Braga por um canudo, o óculo que abrange toda a cidade. Depois, um pulo até ao Sameiro. Do Sameiro, e a talhe de foice, recordar um grande campeão de automobilismo dos anos 4O e que se chamava, justamente, Vasco Sameiro. Lembrar, igualmente, a frondosa Mata da Falperra. Das recordações de infância, lembro-me da quinta dos meus tios em Tenões. Tenões, para os que não conhecem, é uma pequena povoação que fica a meia - encosta entre Braga e o Sameiro. Recordo-me, naquela época, destes meus familiares darem, todos os dias, na sua quinta , o pequeno-almoço a todas as crianças carenciadas da freguesia. Leite e pão com manteiga era a ementa, em tempos de muita penúria. Em fila, os meninos esperavam pacientemente a sua vez. Num púcaro de alumínio, recebiam o leite, e a minha tia distribuía, de seguida, o pão. São episódios marcantes da minha vida, que aqui desfio com uma ponta de emoção. Até porque, neste grande circo da vida, de novo tenho família em Braga. E, de vez em quanto, lá vou, numa romagem ao presente e ao passado. Braga recusa-se a deixar-me na solidão das minhas memórias. E eu, com gosto, vou passeando o meu contentamento pelas belas zonas pedonais da cidade. Depois é rumar a Coimbra, e ver a Torre da Universidade e belo casario a descer, em anfiteatro, até às margens do Mondego. E ao Choupal. O meu berço eterno.
Quito Pereira