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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SER SOLIDÁRIO

Há ocasiões na vida em que a tragédia nos pode bater à porta. Sei do que falo. Pensamos que só acontece aos outros. Seja no conforto da nossa casa, numa curva da estrada ou quando a Mãe Natureza puxa dos seus ”galões” e nos adverte da nossa fragilidade. No Sábado passado foi assim. Aquela que é considerada a “Pérola do Atlântico”, uma espécie de “cartão de visita” de um país já de si maltratado, foi invadida por toneladas de pedras, lama e águas em fúria, deixando a nossa Ilha da Madeira num caos. Na enxurrada, foram casas, carros, estabelecimentos comerciais e, para um número ainda incontável de nossos compatriotas, a vida.
Pelas estações de televisão, vamos recebendo em casa doses maciças de cenários de horror. Ao dever de informar, sobrepõe-se agora uma competição desenfreada de audiências. Ontem, o repórter televisivo, dizia de “Curral das Freiras”: …fomos os primeiros a chegar !!! … como se tudo isto se resumisse a uma sórdida competição de atletismo. Mas é disto que as audiências se alimentam. E é disto, e com isto, que temos aprender a viver. O essencial ouvi-o hoje, ao volante do meu carro, pela boca de uma técnica camarária do Funchal. Pelas suas palavras, percebe-se que ao caos se sobrepõe o ânimo e que, daqui a alguns meses, as feridas estarão naturalmente visíveis, mas a cidade e a região estarão em condições de receber os turistas nacionais e estrangeiros. Precisamos que nos visitem – disse – pois a esmagadora maioria da população tem o seu “ganha-pão”, em actividades ligadas ao turismo. E isto é, para mim, o essencial da questão. Há que reerguer a cidade das cinzas. Há que realojar condignamente os mais desafortunados. Há que pôr o comércio a funcionar e, com ele, as entidades empregadoras e a população em geral a recomeçarem de novo a vida, num cenário de esperança no futuro. Naturalmente, que ao Governo do País e da Região Autónoma da Madeira, cabe a responsabilidade, num esforça articulado, de fazer face a esta calamidade. Mas é preciso também que todos nós, os que estamos longe, não nos divorciemos desta catástrofe, refugiando-nos numa piedosa mas inócua atitude. A Cáritas Portuguesa tem, ao que sei, uma conta aberta, onde poderemos deixar um donativo. Afinal, um maço de cigarros que se deixa de fumar, menos uma refeição fora de casa que se come, uma cerveja que se deixa de beber, pode ajudar a fazer crescer o valor de donativo a entregar às entidades competentes e, naturalmente, credíveis. Um outro aspecto, prende-se com aqueles que todos os anos têm o hábito de sair das nossas fronteiras em turismo. Se o pensarem fazer no Verão – e por estranho que possa parecer a alguns há muita gente a viajar – porque não visitar a Madeira, ajudar com a nossa participação o pequeno comércio local e as unidades hoteleiras, mesmo que as feridas estejam ainda por sarar? Numa sociedade egoísta e egocêntrica como a que nos temos vindo a transformar, sei que cada vez menos interessa o que de dramático se possa passar na casa do nosso vizinho do lado, mas eu, em relação a este triste e mediático assunto, tenho a minha posição. Sejamos solidários.
Quito Pereira

15 Comentários:

Blogger quito disse...

Errata: onde se lê " de dar sair" deve ler-se " de sair"...

3:48 da tarde  
Blogger Bobbyzé disse...

Enviei ontem à noite um texto curto de homenagem à Madeira.
Ainda nao foi publicado.

3:58 da tarde  
Blogger Pedro Sarmento disse...

My dear friend Bobbizé, quando mandares algo que queiras ver publicado, deves fazer notar isso no teu email, coisa que não fizeste. Como calculas quer eu quer o Álvaro recebemos dezenas de emails por dia, com inúmeros assuntos, se os publicasse todos não fazíamos mais nada, e até haveria-mos de ser criticados por tal, estou mesmo a ver.O teu email era dirigido a três pessoas, a menos que dês indicação de que o queres ver publicado, eu não o farei, até porque já o fiz anteriormente com um texto enviado por outro Cavalinho, que me perguntou a que propósito eu publico coisas sem autorização.... Já percebeste certo??

6:23 da tarde  
Blogger Carlos Falcão disse...

Parabens por conseguires fugir a banalidade e ter evitado colocar uma fotografia da tragédia .

Esta é a Madeira que queremos projectar no exterior. Uma linda ilha, um povo magnífico.
Quem não conhece a Madeira não sabe o que perde.

A Madeira merece e bem precisa da fidelidade de todos os seus amigos.

6:36 da tarde  
Blogger quito disse...

Obrigado Falcão, ainda bem que me entendes...

6:44 da tarde  
Anonymous olinda disse...

Gostei do teu texto mas mostrar
a calamidade também é importante.
Sabê-lo fazer é outra coisa também muito importante.
A RTPN fê-lo bem durante o sábado
à tarde.
Sejamos solidários com os portugueses da Madeira e com as famílias das vítimas e desajolados.

Olinda

6:54 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

A tua proposta é magnífica!
Parece-me uma forma ideal de ajuda.
Pensarei nela.

7:21 da tarde  
Blogger Bobbyzé disse...

Magnifica proposta Quito!
A solidariedade com o Povo da Madeira terà que ser uma constante permanente ao longo deste 2010!!

10:08 da tarde  
Blogger Isabel Melga disse...

Boa Noite! Na verdade não há palavras nem nunca conseguiremos imaginar a dor profunda e avassaladora de quem não conseguiu fugir a uma fúria tão repentina da Mãe Natureza e pior do que isso, o mais dramático, foi assistirem completamente desarmados ao voraz desaparecimento pela lama e pedregulhos, dos seus queridos familiares e amigos! Isso deve ser o pior dos pesadelos, o mais terrível espinho que há-de acompanhar as pessoas que sobreviveram, cem anos que elas vivam! É certo que há que cuidar dos feridos, dos desalojados e ganhar coragem e forças entre os destroços e as lágrimas. Mas também não é menos verdade que os responsáveis e todas as forças úteis e possíveis no terreno, deverão reflectir e todos nós, sobre a razão de tanta calamidade. Porque se por um lado a chuva foi muita, exagerada e inesperada, não poderemos esquecer que todas aquelas encostas íngremes são percorridas por ribeiros e que estavam a maioria bastante bloqueados, arenosos e foram-se estreitando; ora as águas se lhes roubaram o seu “terreno” elas um dia viriam resgatar o que lhes era devido! Aliás vimos o que está a acontecer na Fuzeta e em muitas zonas do País e de outros lados do Mundo, como por exemplo aquelas ondas de lama que em Setembro engoliram pessoas e casa e hotéis sem pedirem licença, sem aviso, no Brasil porque essas habitações nunca deveriam lá ter sido construídas! Mais, sem pretender abrir mais feridas, nem ser derrotista mas sim muito lúcida e com profundo respeito e grande mágoa pela impotência que sinto face a um drama tão grande, não esqueçamos que continua muita gente desaparecida e os subterrâneos dos Centros Comerciais ainda não estavam todos vistoriados…
Uma nota de Alberto J. Jardim que me chocou, embora saiba que o Turismo é uma das principais fontes de receita da Madeira, foi a sua preocupação em não [dramatizar, nem passar para o estrangeiro cenas chocantes], como se isso fosse possível com os meios de comunicação existentes… mas nem só por isso, pelo menos os desgraçados que ficaram órfãos de parentes e de seus haveres, que lhes concedam o direito a fazerem o seu luto, a chorarem num ombro amigo e a desabafarem a sua dor para alguém! Por favor, as pessoas não são máquinas, possuem alma, sentimentos. E em oposição a esta atitude assistimos por parte de anónimos e até de outros povos, a ondas de solidariedade que me sensibilizaram bastante apesar do egoísmo e egocentrismo que o dia-a-dia nos mostra. Mas nestas ocasiões de calamidade acredito nas pessoas e nesta sociedade, não há só rapazes maus…Lembro-me bem em 67, de meu marido e irmão andarem dias e dias a socorrerem à chuva e ao frio e em condições difíceis ao lado de centenas de pessoas, quando as cheias assolaram Loures e Odivelas, Alenquer e já nessa época o Governo não autorizou a divulgação dos factos nem dos mortos, foram as organizações estudantis que se mexeram. Não estou a comparar as situações cada facto no seu contexto, mas isto só para exemplificar que há e sempre houve, no meio dos amorfos e egoístas, gente boa e digna.
Mesmo quem não perceba de ordenamento do território nem de engenharias como eu, facilmente se apercebe que tão grande catástrofe e destruição apesar daquele dilúvio, não teria assumido proporções dantescas que se viram e que tão cedo não se apagarão da nossa memória! Por isso, há que reflectir e que se ponderar sobre a pressa em alindar quanto antes a Madeira para ficar atractiva para o turista, mas não por qualquer preço…e evitar que se cometam os mesmos erros, isso seria criminoso! A minha sentida homenagem a todos os que partiram sem se despedirem deste Mundo, sem realizarem os seus sonhos e um Abraço muito solidário pleno de coragem e de respeito para os que se tentam erguer da dor e da lástima em que se encontram! Isabel

11:57 da tarde  
Blogger Chico Torreira disse...

São momentos destes que nos lembram como somos pequeninos face à Natureza. Penso que faço uma ideia do que os madeirenses passaram mas será que tenho a exacta noção? De certeza que não, pois há momentos na vida que só quem passa por eles tem a consciência exacta dos momentos que passou. Um artigo certo, na hora certa, humano e com ideias. Gostei que tenhas voltado. Um abraço.

2:05 da manhã  
Blogger DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

De acordo com o que escreveste e sem dúvida que devemos ser solidários para com os Madeirenses!
Se já o fizemos em relação ao Haiti, embora as duas situações não sejam comparáveis em tamanho de
tragédia, mas a Madeira porque nos atingiu a nós próprios como portugueses deve merecer a nossa solidariedade!

10:33 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Pode existir o melhor ordenamento do território. Pelos vistos e por aquilo que conheco da Madeira, o ordenamento estava razoavel. Canais construidos (a zona da Ribeira Brava parecia impecavel) tudo preparado para grandes enxurradas, etc. Mas perante a forca da natureza quer queiram quer nâo pouco ha a fazer. Se a Madeira nâo estivesse como esta teriamos a lamentar situacôes semelhantes ao Haiti com centenas de mortos. Quanto ao Turismo a ideia de todos aqueles que desejam ajudar poderem trocar umas ferias no Brasil, Rep. Dominicana, Europa, etc por uns dias na Madeira acho a ideia muito boa e apropriada. Sera uma forma de ajudar sem a ideia de dar uma esmola. Dar a cana de pesca em vez do peixe.

10:40 da manhã  
Anonymous CHICO disse...

Boas
... só para dizer que " é triste " ouvir comentarios como os da Isabel Melga ... Avante camarada ... já passou à Historia:)))

CHICO

4:28 da tarde  
Blogger celeste maria disse...

Aos madeirenses e aos seus habitantes um aplauso, pela coragem de com que enfrentaram esta catástrofe e pela determinação em transformarem a lama em flores!
Aos enlutados e desalojados restano-nos apresentar as condolências e a ajuda financeira para refazerem as suas vidas.

4:41 da tarde  
Anonymous Titá disse...

Quito
Gostei de ler as considerações que fizeste à catástrofe da Madeira. Sem floreados e referências supérfluas tocaste nos pontos certos. Por vezes os jornalistas, talvez com a febre da competição, cansam com as reportagens com que nos "bombardeiam", sobretudo pela repetição exaustiva dos factos e pelas perguntas tão desadequadas que fazem aos intervenientes nas tragédias.
Esperemos que a solidariedade "nacional" funcione como quando se trata de apoios para fora de portas. As tuas propostas são um bom começo!

5:04 da tarde  

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