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terça-feira, 24 de novembro de 2009

A BATALHA DO NORTE

Nunca nos anais da História de Portugal, os nossos bravos guerreiros foram de luxuosa camioneta fosse para onde fosse. Mas nós fomos.
Organizados na táctica do Quadrado, que tão bons resultados deu em Aljubarrota, pelos menos assim nos contaram, eis que um grupo de vinte combatentes partiu em desfilada em direcção ao Norte, num dia chuvoso e com cara de poucos amigos. Nada que incomodasse os patriotas, que, repimpados nos seus assentos reclináveis ao som de música de antanho, lá passaram a ponte Rainha Santa. Quilómetro após quilómetro, chegaram a Antuã, onde a dupla Alfredo e Daysi os esperavam. Às costas traziam a viola, na esperança de que com doces baladas conseguissem adormecer o inimigo. Passada a Ponte do Freixo, virámos para Braga e mais curva menos curva, chegámos ao campo de batalha, que o mesmo é dizer, tínhamos que nos confrontar com uma feijoada nortenha. E foi aos gritos de “morra quem se negue” que saímos da camioneta em turbilhão. O Henrique, dono da casa, vestido a preceito, foi-nos mandando entrar. Fomos olhando meio apardalados com o que víamos. Mesas irrepreensivelmente postas, muitos doces e salgados…e um silêncio preocupante. O inimigo, mais esperto, tinha-nos feito cair na esparrela. Uma armadilha de menção honrosa como diz o Tonito. E de repente tudo explodiu numa dança de luz e cor. De minhota vestida, a dona da casa apareceu a bailar, ao som de uma concertina tocada sabiamente por um habitante de terras de Viana do Castelo. Ficámos literalmente encostados às cordas. A Ana rodopiava leve como o vento, o suor a cair-lhe em bagas cara abaixo, pagando o preço da generosidade com que, juntamente com o Henrique, recebiam os amigos. Dali a estarem todos com os pés debaixo da mesa foi um ápice. As travessas aterravam na mesa a velocidade meteórica, mas os de Coimbra resistiram bem. Comeram e beberam à tripa forra e o resultado com as hostes de Santo Tirso só podia ser um: empate técnico.
Depois recomeçou a música. Os de Coimbra pretenderam deslumbrar. De barrete de Pai Natal na cabeça, cantaram uma doce canção de natal, muito própria para infantários e lares da terceira idade. Depois o alcaide Alfredo Moreirinhas, jogou os seus trunfos. De viola na mão, cantou e encantou. Como o barco estava e desequilibrar em favor das hostes da Lusa-Atenas, os de Viana do Castelo vieram em socorro dos de Santo Tirso e tudo voltou à normalidade. Entretanto o antagonista, que sabia que a canção de Coimbra canta e encanta, trouxeram reforços, que, com a bela voz do Henrique a comandar, fizeram daquele instante um momento mágico…
Até que pelo adiantado da hora a refrega terminou. Não sem que os de Santo Tirso não apresentassem novos argumentos. Anas Marias, avó e neta, cantaram um fado. A Mariana, nos seus quatro anitos, recitou e foi alvo de muitas fotografias e palmas. De novo a pequena Ana Maria, ao som de violino brindou-nos com uma canção de Natal, em despedida
Com abraços e lenços a acenar partimos...
- Adeus, Mariana…
- Adeus, Alfredo…
Rendeu-se o guerrilheiro comovido, seguido por todos os outros…
E foi mais um empate técnico. Também em amizade…
Quito

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5 Comentários:

Blogger Manuela Curado disse...

Um texto baseado em dados históricos, etnográficos, sociológicos e gastronómicos, maravilhosamente relatados.
Gosto de ver as palavras brotando com tão grande entusiasmo.

6:58 da tarde  
Blogger Quito disse...

ERRATA:
onde se lê " e foi um técnico" deve ler-se " e foi um empate técnico"
(última linha)

7:20 da tarde  
Blogger celeste maria disse...

Quito
Saí ilesa da refrega,mas a batalha esteve quente.
Até entrei em transe...

9:44 da tarde  
Blogger RI-RI disse...

Quito, arranja-me mais umas receitas!
Rendo-me!!!

Qual técnico?
Sais, (saímos) sempre a ganhar com as tuas estórias.


Vai mais um abraço.

10:28 da tarde  
Blogger DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Descrito com maestria!

1:47 da manhã  

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