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terça-feira, 25 de agosto de 2009

A CASA TÍPICA SALGUEIRENSE

Nesta minha peregrinação pelo livro do professor Rafael Agostinho, que vou utilizando como fonte de pesquisa, detenho-me hoje na casa típica de Salgueiro do Campo.
Começarei por vos dizer que a diversificação de profissões, o fenómeno da emigração e os novos materiais de construção utilizados, adulteraram um pouco o tipo definido e uniforme da casa que caracteriza a região. Aliás, fenómeno que se estende a outras regiões do País.
Na zona que se espraia para sul da aldeia, denominada “Poças”, encontramos novos bairros, denotando ideias trazidas de outras partes do país e maioritariamente do estrangeiro.
Porém, o núcleo primitivo e central da aldeia, mantém-se. As casas são feitas de granito e xisto.
Compõe-se de rés-do-chão e primeiro andar. A parte mais habitada da casa é o primeiro andar, geralmente composto de uma sala, quartos, cozinha, corredor e varanda. A sala é normalmente grande e com janelas amplas que dão para a rua. A cozinha é a parte mais frequentada da casa. Ali se cozinha e se tomam as refeições, e, nos rigores do inverno, se passam longas noites ateando a lareira. E é igualmente ali que se combina a faina do dia seguinte, e as famílias, maioritariamente católicas, rezam as suas orações com devoção, em conjunto.
A varanda, com escadas para o quintal, faz também de despensa. Serve igualmente de sequeiro de alguns produtos agrícolas.
Se a família é numerosa, alguns dormem no rés-do-chão. É ali que vamos encontrar a arca do milho ou do centeio. Nas traseiras encontramos as denominadas “lojas”, geralmente frescas, onde se encontram os pipos, as dornas e os utensílios de lavoura.
A batata, semeada e apanhada fruto de aturado trabalho, é espalhada por debaixo das camas ou no forro da casa, onde é metida por um alçapão, pois a maioria das casas, não tem acesso a esta zona da habitação.
Em redor da casa aglomeram-se os palheiros, como complemento de tudo o que é necessário a uma vida de características acentuadamente rurais. Cheira a feno, e ouve-se o bucólico tilintar das campainhas das ovelhas e das cabras. A um canto, a carroça e o burro. Outrora, era o boi que ajudava na faina campestre. Mas caiu em desuso.
Ainda hoje, as pessoas de idade já avançada, geralmente marido e mulher, cruzam-se comigo na estrada, a caminho da horta, com o característico chiar das rodas das carroças e os pachorrentos animais.
São costumes ancestrais, e um dia, à porta da farmácia alguém me disse: estas pessoas não morrem no dia em que vão para o cemitério. Morrem no dia em que deixam de poder ir à horta com a sua carroça e o seu burrito, por limitações de ordem física ou doença impeditiva.
E eu, estou tentado a dar-lhe razão.
Quito

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3 Comentários:

Blogger Manuela Curado disse...

Começando a ler o texto, supus ser uma rasanha de tempos já idos,
É impressionante como a maioria das coisas ainda se mantêm.
Tenho percorrido várias zonas do país e muitas delas já absolutamente descapitalizadas de costumes ancestrais.
Vejo agora que há ainda tesouros escondidos.
Lá terei de clamar pela minha alma de INDINA JONES e ir até Salgueiro do Campo complementar o meu mestrado.

Obrigada pelo teu empenho e pela tua generosidade, QUITO
Sei que estás de férias no Algave

4:41 da tarde  
Blogger DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

É um têxto que tem a tua marca!Uma realidade bem retratada no papel que se passa por este Portugal do interior!
Cuidado Quito não escrevas na praia...nem ao sol nem debaixo de uma falésia!!!!
Divirtam-se!
Boas férias!

4:48 da tarde  
Blogger DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Já está activado o novo blog exclusivo para a Rota do cabrito de Sicó, com a finalidade de descongestionar um pouco o cavalinhoselvagem.
1º Aniversário do GEG
www.cabritodesico.blogspot.com

4:52 da tarde  

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