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domingo, 28 de junho de 2009

Vouzela e Tentúgal: dois pasteis, uma causa comum

Sobre a "discussão" levantada acerca destas delicias, entendi que o Post em Baixo simboliza de alguma forma a qualidade dos dois meninos optando pela diferença em vez da rivalidade e que seria bom para aprofundar a discussão saudavel sobre o assunto em domingo de chuva. Opinem por favor.
“Porque não um post dedicado ao quase desconhecimento geral da população portuguesa face aos pastéis de vouzela versus pastéis de tentúgal, dado que estes são muito semelhantes na forma, mas os primeiros muito superiores em tudo o resto? Em miúda, os meus pais traziam para casa, de longe a longe, uns pastéis folhados deliciosos com um creme de ovos ainda melhor. Não morámos em Vouzela, por isso suponho que isto acontecesse quando por acaso por lá passavam. Quando fui estudar para Coimbra, senti uma enorme alegria ao verificar que os tais pastéis se encontravam nas montras de qq pastelaria. Não tardou muito que decidisse, numa tarde, pedir um desses pastéis para recordar... Foi a desilusão! Conheci os tentugais...Nunca mais comi um tentúgal, tal deve ter sido a desilusão que o meu estômago sentiu naquele dia. Mas hoje continuo a tentar saber onde é que é possível encontrar pastéis de Vouzela para além de Vouzela.”

A verdade é que tudo gira em torno de ovos, farinha, manteiga e açúcar- o resto bebe na imaginação, no gosto e no engenho de quem os criou. Ambos nascidos na rica doçaria conventual, são indiscutivelmente obras abençoadas que, pelo caminho da boca, nos enriquecem o espírito.

A semelhança aparente entre os pastéis de Vouzela e os de Tentúgal, sempre alimentou um conjunto de crenças pouco documentadas e uma rivalidade sem qualquer sentido- ao fim e ao cabo, a diversidade é, ela própria, a maior riqueza. Estratégias comerciais diferentes, provocaram um maior conhecimento dos que são feitos lá para os lados de Montemor-o-Velho e levaram muitos vouzelenses a defenderem promoção semelhante para os da terra. Puro engano. Como se conclui do escrito da nossa leitora, nem sempre o que está mais ao alcance nos oferece a melhor qualidade.

Saídos da inspiração das freiras do Convento das Carmelitas de Tentúgal, só muito tarde adoptaram o nome da terra como identificação. A proximidade de Coimbra permitiu-lhes beneficiar da divulgação feita por professores e estudantes universitários que, sobretudo a partir da segunda década do século XX, tinham por hábito visitar Tentúgal para provar a iguaria. Se nesta fase os benefícios conseguidos pela terra foram indiscutíveis, já o mesmo não se pode dizer da opção industrial. Hoje, encontram-se pasteis de Tentúgal em toda a parte, quase todos os portugueses os provaram, mas a verdade é que poucos os conhecem. Os verdadeiros. Esses, tal como os de Vouzela, só mesmo no local.

Os pasteis de Vouzela não são melhores, nem piores- são diferentes. Isso basta. Um dos produtos mais conhecidos da região, verdade se diga que não são satisfatoriamente conhecidos e divulgados por ela. A sua história está pouco estudada e a sua origem perde-se nas curvas do tempo, tal como o convento que os criou. É, pois, um dos principais veículos promocionais de Vouzela com considerável margem de progressão. Até porque se lhe disserem que os pode provar numa qualquer área de serviço, ou numa pastelaria fora da terra, desconfie. Os verdadeiros pastéis, de Vouzela e de Tentúgal, não têm conservantes, nem são compatíveis com a frieza da produção industrial. Ainda bem. Um bom motivo para nos visitar(em).

in: http://pasteldevouzela.blogspot.com

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2 Comentários:

Blogger olinda Rafael disse...

Esta informação é interessante!
Tudo tem a sua história e transmiti-la
é partilhar conhecimento.

E parabéns pelas tuas aptidões culinárias!

Olinda

1:33 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Pastéis de Vouzela/Pastéis de Tentúgal

Apeteceu-me meter as mãos na massa. Não exercendo cargo em empresa pública ou de cariz político, não o poderei fazer naquela massa que faz correr muita dessa "gente" e girar o Mundo em que vivemos. Meto-as na massa daqueles afamados pastéis, doces convites aos glutões ou a todos os que gozam em deliciar as papilas gustativas com estes manjares dos deuses... e dos frades. É comum ouvir-se, de quem conhece ambos, que os afamados pastéis de Vouzela e os não menos famosos pastéis de Tentúgal são uma e a mesma coisa. Não são. Passe o aspecto similar, algo os distingue, quer no folhado quer no recheio. Quando, em 1834, o maçónico Joaquim António de Aguiar, mais conhecido pelo "Mata-Frades", instigou à expulsão das ordens religiosas de Portugal, por decreto, e ao consequente encerramento dos conventos, as freiras que lhes davam vida viram-se na contingência de procurarem a sobrevivência nas terras de origem, junto dos seus familiares. Foi assim que monjas clarissas, mais vocacionadas para as doçarias conventuais, recolheram para junto dos entes mais próximos, em Tentúgal e Vouzela. Com elas levaram os segredos das delícias que confeccionavam intramuros e que se viram obrigadas a deitar mão, como modo de vida, passando esses segredos a um restrito número de familiares. E é aqui que entronca a diferença entre os conhecidos pastéis: partindo duma receita, muito provavelmente, comum, divergiram nos pormenores pelo facto das monjas que rumaram a Tentúgal serem provenientes do Convento de Santa Clara de Coimbra (e do Carmelo de Tentúgal), enquanto que as que se fixaram por Vouzela serem oriundas do Convento de Santa Clara, mas do Porto. Por mim, sem me preocupar com saber se o segredo está na massa ou no recheio, no Convento de Coimbra ou do Porto, tanto os de Tentúgal como os de Vouzela me despertam igual gula e satisfação, passe o facto de, sem caseirismos, preferir os confeccionados em Lafões, a quem confiro folhado mais fino e estaladiço.

Hoje pago eu. Sirvam-se!


Postado por B.A. às 08:06
Marcadores: pastéis

http://vouguinha2.blogspot.com

1:13 da tarde  

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