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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Contributo para a Memória (3)

Do Amigo Jorge Castilho, recebemos mais um "Contributo para a Memória", que passo a transcrever na íntegra.
IRMÃOS DORES

Ora cá estou, como prometi, para vos falar de dois rapazes do Bairro Marechal Carmona que, a avaliar pelos comentários que me têm chegado, continuam a ter por cá muitos amigos (e amigas), apesar de se terem ausentado de Coimbra há para aí uns 40 anitos: os irmãos Dores.

Comecemos pelo mais velho – pois bem se dizia na tropa que “a velhice é um posto” e estamos a falar de dois militares!...

O António Manuel da Rocha Dores (Tó, para os mais íntimos) foi o primeiro a sair de Coimbra (para tristeza de algumas donzelas...) quando acabou o Liceu, ingressando na Academia Militar, em Lisboa, na arma de Engenharia. Viria a licenciar-se em Engenharia Civil e a seguir a carreira militar. Reformou-se há poucos anos, no posto de Coronel, depois de um problema de saúde (uma “avaria” no “relógio cardíaco” que o obrigou a submeter-se a intervenção cirúrgica delicada mas felizmente bem sucedida).
Ocupou diversas funções de destaque quer no Exército quer na Guarda Nacional Republicana, tendo também sido Professor na Academia Militar.
Para além do mais, foi um participante activo (tal como o irmão Zé, como abaixo vou referir), na Revolução do 25 de Abril de 1974.
Nessa data marcante para a nossa História, o Tó Dores esteve no Centro de Comando da Pontinha, ao lado de Otelo Saraiva de Carvalho, dirigindo as operações das tropas revoltosas.
Casou novo (com a Lurdes, uma Assistente Social muito bonita e simpática) e assim continua (novo já nem tanto – embora ainda em muito bom estado... – mas casado com a Lurdes sim...). Têm só um filho, o Tiago, que é hoje uma das mais conhecidas figuras nacionais. Tiago Dores, estão a ver? Pois é, um dos quatro “Gato Fedorento”, que antes do grupo se tornar famoso já demonstrava notáveis qualidades humorísticas, escrevendo textos para as “Produções Fictícias”, para o Herman José, e assinando até uma crónica regular, humorística, no jornal “A Bola”.

Quanto ao mais novo, José Luís da Rocha Dores (Zé, para os mais chegados), foi um aluno brilhante no velho Liceu D. João III (onde chegámos a ser colegas de turma) seguindo também para a Academia Militar, em Lisboa, onde igualmente se licenciou em Engenharia Civil, com as mais elevadas classificações.
E sobre o Zé posso (e devo!) entrar em mais alguns detalhes, uma vez que é meu Cunhado. Casou com a minha Irmã Maria Clara (também muito bonita e também muito simpática, pois no que toca ao belo sexo os manos Dores sempre demonstraram bom gosto!...). O casamento foi em Agosto de 1972 e dele viria a resultar um só fruto (mais uma coincidência dos manos Dores), o Miguel, que foi um revolucionário ainda no ventre materno!
Um dia poderei contar este episódio com mais detalhes. Por agora digo apenas que na madrugada de 25 de Abril, o Zé, que estava colocado na Escola Prática de Engenharia (EPE), em Tancos, saiu a comandar tropas que avançaram para Lisboa e foram ocupar um dos pontos nevrálgicos e mais protegidos do País: a Casa da Moeda. O Comandante da EPE não aderiu ao Movimento (tal como outros oficiais ali colocados) e quando a coluna revoltosa saiu rumo a Lisboa, as mulheres dos oficiais revoltosos, com receio de serem feitas reféns, fugiram para os pinhais que rodeavam a unidade. A minha Irmã, grávida de quatro meses, só teve tempo para me telefonar contando o que se estava a passar em Tancos, antes de se embrenhar na mata. A essa hora eu estava já no jornal (trabalhava então no “Jornal de Notícias”), pois fora alertado ao fim da noite de 24 de Abril para o golpe militar em marcha. Perante o relato da minha Irmã fui logo para Tancos, e dali segui o evoluir da Revolução (perdi o que aconteceu em Lisboa e em Coimbra, mas testemunhei, em Tancos, episódios muito curiosos).
Imaginem o que terá sentido a minha Irmã (como tantas outras Mulheres em circunstâncias semelhantes, nessa espantosa madrugada) sabendo que o Marido saíra para uma missão de elevadíssimo risco, onde poderia perder a vida. E mesmo que sobrevivesse, em caso de fracasso da Revolução seria preso e ficaria com a carreira destruída.
Por isso digo que o meu sobrinho Miguel (que viria a nascer 5 meses volvidos, em Setembro de 1974), foi um “bebé revolucionário”, que viveu, no ventre da Mãe, as angústias que estas Mulheres sentiram e a coragem de que deram mostras. (Refira-se que o comandante da EPE e os oficiais que lhe eram fiéis só viriam a render-se quando a coluna do Zé regressou, vitoriosa, a Tancos, depois de integralmente cumprida a sua corajosa missão).
Esse “bebé revolucionário” (Jorge Miguel de Abreu Castilho Dores) é hoje, para orgulho de todos nós, um bem sucedido advogado em Lisboa, com cargo de responsabilidade que conquistou, por mérito próprio, no Departamento Jurídico da REFER. Ele próprio já casou e é pai de uma encantadora Mariana, de quem sou um “babado” tio-avô.
Mas voltemos ao Avô Zé (naturalmente ainda mais “babado” do que eu!).
Apesar do seu excelente percurso militar (tendo ocupado cargos de grande importância e responsabilidade) o Zé nunca se adaptou muito bem às limitações que o Exército impunha. Assim, quando já era Major, decidiu que aquela não era propriamente a vida que desejava e pediu a passagem à Reserva (em 1990).
Encetou então uma notável carreira na área da Engenharia Civil – e civil...
Ocuparia muito espaço referir aqui todos as destacadas funções que tem desempenhado. Cito apenas as que me parecem mais dignas de destaque.
Assim, no Exército, foi, entre muitas outras coisas relevantes, Comandante de Batalhão na EPE e no Regimento de Engenharia n. 1 (na Pontinha); Chefe da Repartição de Pessoal da Arma de Engenharia, Sub-Chefe do Gabinete de Engenharia das Novas Infra-Estruturas do Exército, Professor no Colégio Militar.
Após a passagem à reserva, e ao longo destas duas últimas décadas, tem ocupado cargos de enorme responsabilidade em prestigiadas empresas de Engenharia e Consórcios Internacionais, tendo estado envolvido em algumas das mais importantes obras públicas construídas nestes últimos 20 anos.
Assim, na FBO, foi responsável por grande parte da construção do Centro Cultural de Belém; e depois Coordenador da Área Técnica da Ligação Ferroviária do Eixo Norte-Sul.
Entre 2001 e 2005 foi viver para o Porto, pois assumiu as funções de Director do Consórcio Internacional de Fiscalização das obras do Metro do Porto (um consórcio composto por algumas das mais prestigiadas empresas a nível mundial para um empreendimento no valor de cerca de 900 milhões de euros!), tarefa extremamente melindrosa que desempenhou de forma absolutamente notável.
Em 2006 regressou a Lisboa, como Director do Departamento de Gestão e Fiscalização da Gibb Portugal SA.
Passado algum tempo mudou-se para outro grupo internacional de grande prestígio (onde ainda hoje se encontra): o Grupo Consulgal SA, com empreendimentos de grande vulto em muitos países de vários continentes (entre os quais Emiratos Árabes Unidos, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Macau, Brasil, Roménia, Hungria) que tem levado a cabo obras de grande vulto (pontes, aeroportos, vias férreas, etc.)
Não tenho dúvidas em afirmar que o Zé Dores é, sem exagero, um profissional abolutamente extraordinário, um dos mais competentes, honestos e trabalhadores engenheiros civis portugueses.
Tenho por ele uma enorme amizade e admiração e muito orgulho por o ter como meu Cunhado e, sobretudo, como meu Amigo.

(Se eu estivesse no lugar do Carlos e do Fernando Freire tentaria “desviá-lo”, pois seria, com toda a certeza, um excelente reforço para a equipa!...).

É curioso registar que o Tó e o Zé são, indirectamente, dois dos responsáveis pela mudança de nome do Bairro, de Marechal Carmona para Norton de Matos... Mas são, acima de tudo, dois homens que demonstraram enorme coragem e altruísmo, ao arriscarem as vidas e as carreiras para que em Portugal houvesse Democracia e Liberdade!

E agora aqui vão as informações para todos os amigos dos Irmãos Dores registarem:

- o Tó faz anos a 4 de Janeiro (completou 64 aninhos o mês passado). O seu endereço de e-mail é
ant.dores@clix.pt

- o Zé pertence à magnífica colheita de 1949 (em que, modestamente, também me incluo). Vai tornar-se um catita SEXYgenário no próximo dia 19 de Maio. O respectivo endereço de e-mail é:
rocha.dores@consulgal.pt

Sugiro que os muitos amigos que eles têm lhes façam a surpresa de lhes enviar mensagens, pois estou seguro de que isso os deixará muito felizes.

Para já apenas disponibilizo uma imagem recente do Zé e sua consorte (a minha Irmã Maria Clara), mas prometo que vou tentar aqui colocar também fotografias actuais do Tó Dores, logo que as descubra.

Um abraço para todos (especialmente para os que têm tido a gentileza de saudar a minha entrada neste tão acolhedor espaço de convívio), do

Jorge Castilho

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14 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Jorge Castilho

...talvez um dos alunos de que a minha mãe mais se orgulhava

CHICO

PS:era reciproco ... fez-lhe uma referencia no seu primeiro post

11:24 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Tem piada; ainda no almoço "sulista" do dia 12 de Fevereiro, recordei com o Tomané Quaresma o Tó Dores, e o carro que o pai deles tinha, conhecido pelo calças vincadas; acho que era um triumph, e parece que ainda o estou a ver: acho que era de uma côr entre o bordeau e o castanho; acho que o Tó Dores é vizinho do Tomané Quaresma, em Lisboa....(espero que não me removam o comentário, apesar deser carnaval...)

11:39 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Ao Jorge Castilho, que não estou certo se conheço e do que peço desculpa, um obrigado muito forte pelo que acabo de ler. Acabo de retirar mais um ponto de interrogação da minha estante das recordações ao ler sobre os Dôres. Andei muito mais com o Tó derivado à idade mas para os dois um grande abraço.

Quanto ao carro que era um calças vincadas, apanhei algumas boleias nele como o Tomané e provávelmente o Mário. Fiquei, foi com a recordação de uma côr verde escura ao princípio de quando aí vivemos. Não sei se é um erro da minha memória ou se mais tarde foi pintado para outra côr numa tonalidade sombria. Tudo é possível. Talvez o Tó Dôres possa dizer alguma coisa.

Um abraço

Chico

4:48 da tarde  
Blogger Rui Pato disse...

Obrigado Castilho

7:29 da tarde  
Blogger carlos costa freire disse...

São 19 45 acabei de chegar de Cordoba e Granada onde fui passar estes dias por isso Jorge não te mandei uma apitadela.
Obr por saber noticias dos manos Dores .Brevemente farei contacto .Obr
O nosso almoço em Coimbra está em aberto,esta semana é apertada depois telefono Abraço
Carlos

7:48 da tarde  
Blogger abilio disse...

Jorge Castilho, conheço-o de vista mas nunca calhou falarmos.

Foi bom ter sabido dos manos Dores de quem nunca mais nada soube depois da morte da sua mãe.

Eram meus vizinhos, moravam na casa do bairro pegado à minha, mais novos do que eu, o Zé Dores era da geração do meu irmão, Zé Eduardo, e julgo que colegas de turma.
O carro do Sr. Dores era efectivamente um Triunph (calças vincadas) verde garrafa.

Obrigado pelas notícias dos Dores.

Abílio Soares

8:33 da tarde  
Blogger fcostafreire disse...

Caro Jorge
Obrigado pela sugestão que é boa mas ...
depois explico te pessoalmente
abraço fernando

9:20 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

mário pinheiro de almeida BI 391395
Abílio
Obrigado pela correcção; não é que seja daltónico, mas tinha ideia de outra côr...

10:34 da tarde  
Blogger cota13 disse...

Um amigo que não via Há muito tempo.
Um Abraço ZÉ.
Bom Ano.
TONITO.

10:52 da tarde  
Blogger DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Conheci bem o pai Dores, mas realmente dos filhos não melembro, mas como aprecio tudo que diga respeito aos que viveram no meu bairro, saúdo o amigo Castilho por este texto.

12:55 da manhã  
Blogger Quito disse...

Agradeço ao Dr. Castilho esta recordação dos manos Dores.
Lembro-me bem deles, o provavel é que não se recordem de mim, era e sou conhecido por Quito.
Recordo-me parfeitamente do "calças vincadas", e não sendo minha intenção lançar a confusão, eu acho que era preto.
Um abraco ao Dr. Castilho e aos manos Dores

7:20 da tarde  
Blogger joca disse...

nem assim me convencem

10:46 da tarde  
Blogger joca disse...

O carro era um verde escuro, tipo verde garrafa

10:47 da tarde  
Blogger ai kei dcair disse...

Jorge Castilho
Fiquei muito satisfeito ao ler-te por estes lados, e lembrar dois amigos e vizinhos de miudos da Rua C.
Para o Zé e Tó um abraço.
O Zé estive com ele (contigo, com o Nando e com o Tonito) no Jornal de Coimbra (?) em data que não me lembro.
Um abraço
Jorge Carvalho

11:17 da manhã  

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