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domingo, 30 de novembro de 2008

A Nela Curado abriu o jogo e eu quero continuar…..aflorou o tema do nacional cançonetismo, que, quer se queira quer não, fez parte da “entourage” musical da nossa juventude…quem não subiu os Lóios a trautear a mula da cooperativa, quem não desceu o Cidral a cantarolar as cartas de amor, os mais urbanos que subiam a rua dos Combatentes lá iam pensando nos olhos castanhos…tudo isto muito antes dos beatles, rolling stones, richard anthony, sylvie vartan e outros que tais…proponho-me aqui recordar aqueles que cantavam em português, e cujas letras ainda estão bem presentes na nossa memória, fruto das audições da emissora nacional ou dos discos de 78 rpm…
Perdoem-me a modéstia, mas vou começar por Francisco José que, a partir de Setembro de 2000, e embora postumamente, passou a fazer parte da família da milha filha Rita, pelo seu casamento com o sobrinho Rui; então é assim:

FRANCISCO JOSÉ
Nasceu em Évora a 16 de Agosto de 1924, de seu nome completo Francisco José Galopim de Carvalho (n.a. sim era irmão do pai dos dinossauros, tb ele nascido em Évora em 1931).
Estreou-se na festa de finalistas do seu liceu de Évora no Teatro Garcia de Resende, onde cantou “Trovador”. Profissionalmente teve a sua primeira apresentação aos 24 anos, para tal tendo de interromper a frequência do 3ºano de engenharia, que acabara por não concluir. Mesmo assim, o primeiro emprego tem-no no Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Munido de uma carta de apresentação do professor Mota Pereira, apresenta-se, em 1948, no Centro de Preparação de Artistas da Rádio, tendo cantado no teste “Marco do Correio” e “marina Morena”. Em pouco tempo transforma-se num dos nomes mais populares da canção portuguesa, em particular junto do público feminino, o que lhe vale o título “O Coração que Canta”
Em 1951vai a Madrid gravar o 78 rpm Olhos Castanhos/Se. Ganha 500 escudos por cada face registada. No ano seguinte, regressa a Madrid para gravar Sou Doido por Ti, Deixa Falar o Mundo e Ana Paula, três discos de uma vez. Experimenta o teatro de revista em 1952, ao lado de Hermínia Silva. Antes já tinha subido ao palco em Évora, com Palhas e Moinhas, uma revista regionalista de Vasconcelos e Sá.
Em 1954 embarca, pela primeira vez, para o Brasil, onde acaba por se radicar e constituir família, perante uma carreira de sucesso sem par para um artista português naquelas paragens.
Nos primeiros 6 anos não consegue gravar discos, pelo que actua essencialmente, para os portugueses residentes no Brasil. Em 1960 dirige-se à etiqueta Sinter, onde regista uma canção que recebe, finalmente, a atenção do mercado: edita então Olhos Castanhos (inaugurando o selo Philips da Sinter, no Brasil). Vende um milhão de cópias, sendo o disco mais popular no Brasil em 1961. Em menos de dois anos torna-se o artista português mais popular de sempre no Brasil.
Ao longo dos cerca de 20 anos que permanecerá no Brasil (com residência em Copacabana), grava 24 álbuns, dos quais apenas 6 são editados em Portugal. No Brasil, além de uma carreira editorial bem sucedida, passa pela televisão (no Canal 9, com um programa ao sábado em prime time ), e abre, de parceria com o irmão Mário, também residente no Rio de Janeiro, o restaurante Adega de Évora.
Entre os mitos EP que edita ao longo da década de 60, contam-se, além de uma nova gravação de “Olhos castanhos” (originalmente lançada em Portugal alguns anos antes, num disco de 78 rpm), os discos Alfama, Como É Bom Gostar de Alguém, Maria Morena, Que Me Importa, Estrela da Minha Vida, Francisco José Canta Lisboa, Alma Minha e Encontro ´s Dez. Em 1964, numa deslocação a Portugal, acusa, em directo, a RTP de pagar escandalosamente mal aos artistas portugueses, contra os cachets elevados dos nomes estrangeiros. Habituado a ganhar cerca de 50 contos por programa no Brasil, resolve pedir cinco pela actuação para a RTP. Respondem-lhe que o plafond máximo para os portugueses é de dois mil escudos, mas mesmo assim acedem a pagar mais mil, caso fique de boca calada. Mesmo assim, o número fica aquém dos 100 contos que recentemente tinham sido pagos a Cármen Sevilha e dos 60 a Charles Trenet.
Em directo, depois de cantar, revela a situação e o programa é automaticamente interrompido. O cantor foi levado para a sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso e aí interrogado. É-lhe movido um processo e chega a responder em tribunal por “injúria” e “difamação”.
É-lhe interdita a saída do País mas, como declara mais tarde a A Capital, “fica tudo em águas de bacalhau”. Mesmo assim, durante 16 anos não canta na televisão portuguesa.
Na década de 70 continua a registar discos de sucesso como Guitarra Toca Baixinho ( que em 1973 vende cerca de 130 mil unidades) e Eu e Tu.
A PolyGram, sua representante local, edita algumas antologias em LP. Ao todo a sua discografia totaliza 109 títulos, em 33, 45 e78 rpm.
Em 1983, grava o seu último single As Criança Não Querem a Guerra , por ocasião de uma visita a Portugal. Envolve-se na política activa, chegando a concorrer pelo PS à Assembleia da República pelo círculo fora da Europa, mas não chega a ser eleito.
Em meados de 80 regressa definitivamente a Portugal, onde chega a actuar durante algum tempo, retomando a carreira. Conclui o curso de Matemática, e ensina em Lisboa na Universidade da Terceira Idade.
Em 1988 morre, nos últimos dias de Julho, vítima de AVC.

Biografia escrita pelo seu sobrinho Nuno Galopim de Carvalho, logo cunhado da minha filha Rita, e publicada na Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa, dirigida por Luís Pinheiro de Almeida e João Pinheiro de Almeida, com edição do Círculo de Leitores, e onde se fala de Amália Rodrigues a Rui Pato e vice-versa. Quem quiser saber mais sobre música ligeira portuguesa é só dizer….

Um abraço
Mário P.Almeida

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9 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

MPA
Sem saber dessa ligação familiar referi há dias num comentário à Nela Dias o Francisco José, pela excelente voz que tinha e recordo-me desse episódio que protagonizou aquando da valorização dos artistas estrangeiros em detrimento dos portuguses.
Havia um amigo meu, José Valenrim Prata, do Juncal do Campo,que me referiu que quando faleceu o F.J era aluno da Universidade Sénior de Lisboa. Como já foi há muitos anos admito poder haver alguma confusão da minha parte, mas estou em crer qua não.

5:58 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Lembro-me do programa e da sua declaração subversiva (a velha/nojenta nomenclatura utilizada na ditadura...)em frente às camaras da TV.
Claro que tal comentário arrasou as hostes salazaristas...
Para as nossas mães e, raparigas em geral, era um cantor romantico que nos encantava com a sua voz.

Gostei de conhecer melhor a sua vida pessoal e de cantor.

Olinda

6:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Disse e repito, que se alguém quiser saber mais alguma coisa de algum artista português é só apitar, pois com a juda da enciclopédia dos meus irmão é tarefa fácil....
Quito
O teu amigo Prata pode muito bem ter sido aluno do FL, pois ele foi professor na Unversidade Sénior quando regressou a Portugal....

9:24 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Muito interessante este texto.
Curiosidades desconhecidas e outras relembradas.

9:26 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Mário,agora já não há mais confusões.Tens aí tudo para nos ires informando.E nós vamos sabendo
mais...
Um beijo para ti,para o Luis e para o João da
Nela Dias

12:42 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Mário, foi muito bom teres repescado a história da vida de Francisco José que foi um marco (não só o do "correio") na música portuguesa de altura.
Lembro-me perfeitamente do episódio da televisão a que assisti e do embaraço causado por quem, na altura, não contava com aquela situação. Foi um acto de coragem e só por isso merecedor da nossa admiração.

4:20 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

Também me lembro perfeitamente dessa cena, talvez devido á coragem daquele homem. É qualidade que muito aprecio.
Anos antes, já ele cantava e os meus pais ofereceram me e a minha irmã dois bonecos cuja única diferença estavana côr dos olhos.
O dela olhos azuis, o meu "olhos castanhos". AO meu, chamei-lhe,Francisco José.

7:11 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

MPA
Então tudo bate certo,e posso referir-te que o meu amigo José Valentim Prata, falecido há 3 anos tinha uma grande estima pelo J.F. referindo-se a ele sempre em termos muito elogiosos

10:32 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Creio que Francisco José,o "Xico Zé" para os amigos foi sem dúvida um marco na história não só musical como Humana.Tive o enorme e grato prazer desse senhor me dar o privilégio de me receber em sua casa na Damaia onde tive a oportunidade de usufruir um pouco do seu tempo e eu nessa altura com 32 anos ,o Xico Zé teve uma frase para com a sua esposa na altura:Isabelinha ,repara como um jovem gosta da minha música.Ainda hoje recordo essa frase com muito gosto.
Não foi favor nenhum da minha parte ,apenas um reconhecimento a uma voz linda,bem colocada e timbrada que hoje muita saudade me deixa a sua ausência física,como cantor e Ser Humano.Orgulho-me de me curvar face ao seu nome e tenho ultimamente conseguido comprar grande parte dos seus muitos LP's editados no Brasil os quais Portugal nunca conheceu.
Em sua honra fiz uma colectânea de canções a quem o meu também o meu amigo e já falecido Mário Simões editou em CD com temas bastante antigos e originais,pois foram extraídos de 78rpm.
Creio que Portugal teve neste intérprete um exemplo de um verdadeiro cançonetista.Tentem conseguir escutar o tema "Poço de Jacob" que não era senão uma versão da então na altura,proibida, "Samaritana".escutem de olhos fechados e bem compenetrados tentem não chorar...

6:07 da tarde  

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