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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Éramos adolescentes habitudas ao recato


Alexandre Herculano, Arcos do Jardim, Rua dos Combatentes, foi o meu percurso de longos anos.
De princípio era com muita curiosidade que passava na República ao cimo desta rua (Pagode Chinês) que além de uma decoração invulgar (bacios, alguidares,bidés, sanitas, jarros, etc...) tinha diáriamente junto à porta um" caloiro", fardado de forma estranha, de bacio na cabeça à laia de capacete e de vassoura ao ombro, como de uma arma se tratasse. Quando passávamos, gritava bem alto,fazendo continência, "ÀS ÀRMAS"... e todos os do interior se postavam às janelas para nos vêr passar, dirigindo-nos piropos vários. Nós gostávamos..., sorríamos... e continuávamos... em grande agitação. E todos os dias a cena se repetia.
A curiosidade era muita. O mundo surgia com outra côres.
Até aqui, só nos era permitido o dito percurso e os "intramuros" do antigo colégio, onde imperavam duas directoras já idosas e autoritárias. Sentia-me a abafar de tédio,
Não tardando, deambulações foram combinadas por algumas de nós, à Rua das Matemáticas, onde ficavam exatamente, algumas das mais badaladas Repúblicas.
Dia aprazado, faltando às aulas, partimos à descoberta. Chegadas aí, foi com estupefacção, que vimos pelas janelas entreabertas, pintados nas paredes, corpos desnudados de mulheres em toda a sua plenitude.
Abalámos desabridamente com um misto de medos e ansiedades que na altura não conseguimos decifrar.
Éramos adolescentes habitudas ao recato e tudo aquilo era para nós um mundo de mistério e sedução...
Nela Curado

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23 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

No Pagode Chinês
Um belo dia...apanhei o "caloiro" distraído...e espreitei:

Cenário - A cozinha !

Mesa de madeira tosca, corrida...e sobre a mesa e não "sobremesa"...um lençol branco pendurado tipo "estendal de roupa"!?? Era o guardanapo geral!

Mas mais "episódios" seguem dentro de momentos!

ZL

11:51 da tarde  
Blogger Rui Pato disse...

Gostei de ler Nela.
É! Fazia-se constar que as Repúblicas eram um antro de perdição...lascívia e concupiscência!
Já agora , as meninas que escrevam como eram os Lares, onde as piedosas irmãzinhas velavam pela virgindade colectiva.

8:05 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Nela Curado
Recordar é viver...
Quito

9:58 da manhã  
Blogger Manuela Curado disse...

Alvaro, também podias ter arranjado uma foto mais bonitinha.
Puxa... não gostas mesmo de mim.
Rui Pato, vou contar, sim, pois mais tarde andei dois anos no Rainha Santa e tive várias amigas em lares. Era geitoso era...

10:22 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Oh Nela foi a foto que apanhei mesmo aqui à mão. Pra proxima vai melhor...eheeh

10:56 da manhã  
Blogger Manuela Curado disse...

Assim se entretinham as vossas miúdas.

Tive uma colega que estava num lar perto do A.C.M e por lá fiz algumas incursões. As janelas das traseiras, davam presisamente não sei se, República ou lar de rapazes e então era um contentamento ver o pessoal a fazer sinais manuais estranhíssimos , pois tinham um código especial e assim comunicavam.
A tradução era-me feita já que era leiga na matéria e eu achava imensa graça aquela paródia. Marcavam-se encontros, encetavam-se romances, enfim um sem número de coisas perfeitamente delirantes.

11:13 da manhã  
Blogger Manuela Curado disse...

Afinal e concluindo, sem pensar bem nisso, tudo era forma de estarmos convosco.

11:18 da manhã  
Blogger Manuela Curado disse...

Bom dia Rey Vadyo, então não anda a vadiar? Realmente o tempo está bom é para estar no quentinho, pelo menos por aqui em Oeiras

11:24 da manhã  
Blogger Manuela Curado disse...

Mais outra...
Estava a fazer o almoço e abandonei-o só para vos contar uma coisa que recordei e acho deliciosa.
Não há vez, em que me apresentem em restaurantes ou em casas particulares o célebre Bolo de Bolacha, que não me recorde, que este era o único bolo confeccionado pelas meninas dos lares pra levarem para os bailes em completo segredo. Não precisava de forno e tudo era feito no quarto onde dormiam à rebelia das tutoras.
E agora vou embora se não ninguém almoça nesta casa. Isto é um dasatino mas é tudo por amôr a vocês. Adeus... e vou vêr se faço um bolinho de bolacha, alguem quer?

11:54 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

NELA,
Ai!Ai!Ai!Ai! Andar a espreitar para dentro dos quartos dos rapazes...
Está bem, eram crianças inocentes!
Nela, em que anos é que andáste no Colégia Rainha Santa? É que as minhas irmãs, também lá andaram!

11:54 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Já acima comentei como o meu pai me proibiu de entrar em repúblicas, mas ficou-me uma curiosidade enorme que consegui satisfazer anos mais tarde. Já casada e na companhia do marido lá conseguimos um convite de um amigo para visitar uma república.
Naquele tempo, menina que se prezasse, só olhava pelo canto do olho, mesmo roidinha de curiosidade.
Um abraço da Isabel Parreiral

12:12 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

Vocês andavam de tasca em tasca, eu de colégio em colégio...
Vou pensar depois digo.

12:18 da tarde  
Blogger Tó Melo e Silva disse...

Nela

Este teu post reflecte bastante bem o "modus vivendi" da rapaziada desse tempo: a educação acima de tudo.

Quanto à continência feita pelos "repúblicos", outra coisa não seria de esperar, dada a beleza da menina que passava.
Também os "murais" que observaste, de relance, reflectem, igualmente, a irreverência do estudante de Coimbra, de uma forma geral.

Gostei muito.

Um beijinho e, se não for antes, até às enguias.

12:43 da tarde  
Blogger Rui Felicio disse...

À entrada da AI-Ó-LINDA havia um enorme mural com um corvo pintado e a seguinte legenda:

É MAIS FÁCIL ENCONTRAR NESTA CASA UM CORVO BRANCO QUE UMA MULHER BOA!

Quando levávamos á noite as nossas turistas francesas para "visitarem" a República, traduziamos:

C'EST PLUS FACILE TROUVER ICI UN CORNEILLE BLANC Q'UNE FEMME BONNE.

Vous êtes les exceptions, chéries....

---------------------

Donc,le vin rouge, le fado e les etceteras commençait, bien sûre......

6:16 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

Aproveito para vos entusiasmar a vêr uma coisa, francamente deliciosa. Se gostaram do G.E.G, não percam de maneira nenhuma o filme "MAMMA MIA", foi realizado especifícamente para nós.
Aproveitem o fim de semana, vão ao cinema e quem sabe se a seguir não vos apetece ir dançar ou passear ao luar...Tenho a certeza que virão retemperados para mais umas semanas de trabalho.
Razão tinha o BOBIZÉ que,dizia eu,andava sempre a "chatear"para ir-mos ver o dito filme. Percebo agora o teu entusiasmo, tinhas razão amigo

6:57 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Melhor que o Mamma mia, só os Amigos de Alex.....este é de culto, o outro é de brincadeira....

8:58 da tarde  
Blogger vítor costa disse...

O Rui Felício fez-me recordar algumas frases afrancesadas utilizadas com as francesa que chegavam para férias na Figueira e ficavam numa pensão no Largo da Portagem:
Encore bien que je te trouve (ainda bem que te encontro)
Ici c'est l'avenue Sá du Frapeau
(aqui é a avenida Sá da Bandeira)
e a célebre, dita junto à borda da piscina municipal
tu est ici tu est dans l'eau
(estás aqui estas na água)

11:29 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

E o je me suis dans les encre (estou-me nas tintas....)

11:44 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

É claro que falta um s na encre...

11:45 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Mana Nela
Deixa estar que no domingo passo os ABBA para ti e podes recordar as músicas do filme.....

5:17 da tarde  
Blogger Manuela Curado disse...

Ainda bem que apareces. Tenho sentido a tua falta, Vitor.
Enquanto vocês andavam na Figueira da Foz, entretidos com as meninas francesas que aí aportavam,os espanhois e os franceses andavam atrás das vossas meninas portuguesas. A mim calhou-me, leiam bem, um Pedro Porras de Cáceres e a`minha irmã um francês, ambos hospedados no Grande Hotel
Tudo isto me parece, não sei porquê o jogo do gato e do rato...

UN BISOU POUR TOI

10:43 da tarde  
Blogger Bobbyzé disse...

Nelinha! Quando me falam em grandes festas sao essas que viste no filme MAMMA MIA que me interessam. Eu tive o enorme privilégio de organizar uma festa de arromba por ocasiao dos meus 50 anos. O vestuàrio do "flower power" era de rigôr!!2 grupos americanos animaram essa noite memoràvel, inteiramente patrocinada (financeiramente) por 2 empresas da cidade de Colmar!!!Os franceses nunca tinham visto uma festa de anos patrocinada!!!!!A festa durou até de manhazinha e nao levou "concertinas"!!!Rockinho do puro, dos anos 60!!!!
Ponham-me a organizar alguma coisa e vocês verao!!!!Mas claro, quem nao gostar de musica, que fique em casa!!!!

10:49 da tarde  
Blogger Isabel Melga disse...

Ainda bem que se falou sobre o “papão” e a má fama das Repúblicas, é bom que se esclareçam as situações porque há o antes e o depois. Antigamente quando os estudantes das classes poderosas e ricas vinham para Coimbra eram os senhores de tudo e de todas. Então foram muitos os que tiveram um filho das Lavadeiras que iam lavar-lhes a roupa e arrumar-lhes os quartos. Isto nos anos 20 e 30. Com o evoluir dos tempos e das mentalidades, as coisas foram-se normalizando e se isto não fosse um Blog, até poderia explanar um pouco mais a evolução política e social que se foi operando no papel e responsabilidade do “repúblico”, na sua consciencialização do que era ser estudante. Mas era muito chato para vós. Apenas tento sintetizar e resumidamente esclarecer que mais tarde as tais orgias foram substituídas por reuniões políticas, por convívios onde eram convidadas pessoas mais velhas, professores as suas esposas, as namoradas. Por isso umas Repúblicas mantiveram ainda um certo abandalhamento, pois esta evolução não foi uniforme nem com data e dia marcado. O que é certo é que uma vez ou outra não é que não apanhassem a sua bebedeira. E a irreverência e mesmo alguma brejeirice, também não ofende ninguém. Hoje a bebedera acontece e infelizmente com mais frequência e o mais grave agora até mais nas raparigas, e isso sim, ficam perfeitamente desprotegidas e sem a noção do perigo que poderão sofrer. Porque antigamente, na nossa geração éramos menos controlávamo-nos uns aos outros e não nos deixávamos. Nem havia as doenças que há agora. Mas já me estou a dispersar. O Objectivo é que quando íamos às Repúblicas, nos Centenários, nas formaturas, nas reuniões estava sempre muita gente nunca ninguém me faltou ao respeito nem me mordeu ou arrancou algum bocado. Meus Caríssimos, sejamos honestos e sinceros, tanto nos anos 50, 60 ou agora, tudo depende do espírito com que se vai a algum lado e da postura da mulher e do homem e do que ela consente. Mesmo naquele tempo havia uns com fama e proveito de mulherengos, de levianos, eu também os conheci e não tenho razão de queixa, ninguém me raptou ou tocou. Não digo que isso infelizmente não possa acontecer excepcionalmente, como é óbvio, nos casos de violência alcoólica ou patológica. Mas isso são extremos que nem é bom falar, embora existam todos os dias! Mas estávamos a falar de Repúblicas. Tenho boas recordações até de Reuniões de intelectuais que eram convidados. Mas eu sei que sempre houve e continua a haver a tendência a meter rótulos às pessoas por este ou aquele comportamento, porque são pessoas que fogem ao padrão de vida dita “formatizada” usando uma expressão de computador. Enfim, é uma fragilidade humana. E também me parece perigoso e injusto, fazer generalizações, as Repúblicas são todas uns antros de perdição, ai que horror!!!!! Tantos Espaços actualmente badalados nas revistas e frequentados por gente dita bem e tanta coisa feia e podre lá se passa, minha nossa!!!!! E antigamente que se namorava da janela e quantos filhos nasciam por obra e graça do espírito santo?????? E os encontros clandestinos nas Igrejas? O cheirinho a vela e a água benta deveriam estimular os sentidos! Mas é bom falar nas coisas para não ficarmos com teias de aranha.

2:43 da manhã  

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