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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

JOÃO SILVEIRA - A tarde é gémea da manhã.

JOÃO SILVEIRA
(um conto da cidade)
João Silveira nasceu em Belém, mesmo à beirinha do Tejo.
Trabalha num escritório de um armazém de tecidos e todos os dias se levanta pelas seis da manhã. A higiene necessária, o café bebido à pressa, o pão que se come escada abaixo que o transporte não espera.
Lá fora o estrondo da cidade. Autocarros, eléctricos, automóveis com o estridente buzinar, o barulho a que já está habituado.
No autocarro apinhado de gente, consegue com esforço lugar. De pé, como todos os dias. Paragem. Descida ao metropolitano que é hora de transbordo. E ele lá vem, silvando no fundo do túnel com a sua luz sinistra rasgando o ventre da cidade.
João Silveira chegou ao armazém. Pontual como sempre pretende ser. Depois papeis e mais papeis, burocracia mais burocracia. Rotina… rotina… rotina.
Almoço aligeirado no pequeno café da esquina. Uma passagem de olhos menos interessada pelos cabeçalhos dos jornais que notícias as já fatigam…
A tarde é gémea da manhã. O regresso. O recomeço da aventura.
Á noite, frente à televisão, as palavras e as imagens já não assustam. Guerra, nuclear, fome atentado, morte passam por ele com a indiferença do cidadão comum sitiado em si próprio à espera de melhores dias que se calhar não virão.O dia terminou. O ritual da higiene necessária para o repouso nocturno, para um novo recomeçar.
João Silveira venceu a cidade.
Quito

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3 Comentários:

Blogger Manuela Curado disse...

Quito, não digas mais. Cheguei ontem mas ao lêr o teu texto apetece-me pegar na mala e voltar aos braços doces da minha terra e sonhar...
Beijos para os dois

7:18 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Estes saudosistas brindam-nos com estas delícias!

Toca a continuar.

12:21 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Quito,mais um belo texto.
A vida às vezes é um encontro solitário de um Tu a Tu.O hábito automatiza-nos.Vivemos hoje uma crise de sentido,quando sabemos que linguagem e pessoa se implicam.
O Ser só se revela na linguagem sempre nova e viva e disponivel para o Outro.
Guerra aberta à rotina.
Um beijo da
Nela Dias

2:31 da tarde  

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